segunda-feira, 5 de março de 2007

Correndo contra a prisão de ventre

Temos um texto que fala de beneficíos diretos e indiretos de uma vida fisicamente ativa. Muito mais interessante que se entupir de Activia e Yakult.

Que as mulheres são as mais afetadas pela constipação, doença popularmente conhecida como intestino preso, a maioria dos médicos afirma. Mas ainda não existe nenhuma pesquisa que comprove isso em números. “Na literatura, em geral estudos de caso, a incidência é maior nas mulheres. No Brasil não há um dado exato, mas estima-se que elas sejam afetadas na ordem de 1,5 a 2 vezes mais do que os homens”, relata a gastroenterologista Luciana Lobato, professora da disciplina de gastroenterologia e chefe do Setor de Motilidade Digestiva da Unifesp.



Em grande parte se deve à questão hormonal, muito mais variável nas mulheres por causa do ciclo menstrual e da gravidez. “Durante o ciclo, há uma fase em que predomina o estrógeno e outra em que predomina a progesterona. Nessa segunda, a ação do hormônio deixa o organismo mais lento e propício à constipação”, explica Cláudio Bonduki, do Departamento de Ginecologia da Unifesp. A gravidez também aumenta o nível de progesterona.



E para prevenir, ou mesmo melhorar, e evitar os sintomas que aparecem em quem tem o intestino preso –como dores abdominais, cólicas e sangramento durante a evacuação–, corrida, aliada a uma boa alimentação, é um santo remédio. “Esportes aeróbicos, como corrida e caminhada, estão entre os mais indicados. Principalmente porque aumentam o consumo de oxigênio no cérebro e aceleram o metabolismo da mulher”, explica Luciana.



A gastroenterologista reitera que a prática de exercício físico melhora a velocidade com que as fezes passam pelo intestino, porque a atividade garante e reforça a movimentação natural do órgão, os chamados movimentos peristálticos, que empurra o bolo fecal. Além disso, como as fezes atravessam o organismo mais rapidamente, não perdem tanta água pelo caminho. “Se há demora ao atravessar o intestino, as fezes perdem água, o que as deixa ressecadas e duras”, completa Luciana. E a consistência é um dos critérios que ajudam os médicos a determinar se uma pessoa tem ou não problema de constipação, junto com a freqüência com que a mulher vai ao banheiro. Menos de três vezes por semana é sinal de intestino preso.



As mulheres reclamam, ficam de mau-humor, tomam remédios, mas, muitas vezes, não tomam a decisão mais simples e saudável: a mudança de hábitos. E são os números que denunciam. “Entre 90% e 95% dos casos estão relacionado ao sedentarismo, dieta com pouca fibra e baixa ingestão de líquidos”, alerta a gastro. “Só entre 5% e 10% dos problemas estão associados a doenças do intestino ou sistêmicas, como a diabetes”, completa.



Outra característica muito positiva da corrida, segundo Luciana, é que libera endorfina, que melhora o humor, o bem-estar e a disposição física da pessoa. “Acho até que a mulher se torna mais capaz de lidar com os sintomas e mais disposta a tomar uma iniciativa para mudar sua situação.”



A médica Luciana é enfática ao indicar exercício físico, alimentação rica em fibra e muito líquido. A mesma orientação é dada por outros especialistas.



Graziela Friedler, nutricionista pós-graduada em fisiologia do exercício pela USP, explica que, se a mulher não ingere a quantidade ideal de água (cerca de oito copos por dia), o bolo alimentar já chega ao intestino grosso com uma consistência ressecada. “O problema é que é exatamente no intestino grosso que se dá a maior absorção de água pelo tubo digestivo, ou seja, as fezes vão ficar ainda mais secas”, diz a nutricionista.



A mestre em nutrição humana aplicada pela USP Luciana Setaro lembra que há dois tipos gerais de fibras: as insolúveis a as solúveis em água. “As duas ajudam, mas as fibras do segundo grupo são as mais importantes para o funcionamento do intestino. Elas funcionam como uma esponja e, quando incham, distendem a parede do intestino, que se anima para dar propulsão para as fezes”, elucida a nutricionista. Segundo Luciana, a quantidade diária que deve ser ingerida é de, em média, 25 g por dia.



Trava também na cabeça

Segundo a psicóloga clínica da Unifesp Mara Pusch, várias mulheres não conseguem ir a banheiros que não sejam o da própria casa, porque muitas não encaram isso como necessidade básica. “Há uma certa inibição”, conta Mara. Outro traço comum que a psicóloga Mara nota em suas pacientes é que mulheres controladoras têm tendência a desenvolver problema de intestino preso. “Até isso ela passa a controlar”, diz a psicóloga.



“Como correr, ir ao banheiro exige treino”, ensina a gastro Luciana. Ela recomenda que a mulher nunca evite o reflexo da evacuação, a vontade de ir ao banheiro. Ela também sugere que a pessoa escolha um determinado horário de seu dia e sente no vaso sanitário por 15 minutos. Esse hábito deve virar uma rotina.

Fonte: Luciana Setaro, mestre em nutrição humana aplicada pela USP

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